Dificuldade em manter tradição com parteiras em aldeias do ES faz indígenas recorrerem a hospitais

  • 19/04/2024
(Foto: Reprodução)
Algumas indígenas de aldeias em Aracruz, no Norte do Espírito Santo, desejam manter a tradição ancestral, de ter filhos pelas mãos de parteiras da aldeia, mas têm enfrentado algumas dificuldades que acabam as levando para o sistema público de saúde. Bárbara Tupiniquim teve o segundo filho na aldeia, com ajuda de uma pediatra obstétra Arquivo Pessoal "Eu queria ter um parto domiciliar no meu território, na minha casa, mas não foi possível porque as parteiras da minha aldeia estão muito anciãs. Minha saída foi procurar o hospital, onde, depois de dois dias em trabalho de parto, precisei passar por uma cesárea. Bem diferente de tudo que sonhei". Esse é o relato da primeira experiência como mãe de Bárbara Tupiniquim, indígena, liderança da aldeia Pau-Brasil, em Aracruz, no Norte do Espírito Santo. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram Bárbara também faz parte da articulação de mulheres indígenas do território no estado. Outras indígenas relatam a mesma situação. Desejam manter a tradição ancestral, de ter filhos pelas mãos de parteiras da aldeia, mas têm enfrentado algumas dificuldades. "Tem a falta de incentivo, parteiras anciãs não atuam mais, e parteiras mais novas não conseguem atuar pela falta de experiência ou são oprimidas por alguns técnicos da área da saúde. Com a chegada das unidades de saúde, muita coisa melhorou, mas também com muitos profissionais despreparados para lidar com conhecimentos tradicionais, acabam amedrontando as gestantes e as conduzindo aos hospitais", relatou. Bárbara Tupiniquim é indígena da aldeia Pau -Brasil, no Espírito Santo Arquivo Pessoal Nesta sexta-feira, 19 de abril, o Dia dos Povos Indígenas é visto como uma data de reivindicação de direitos por território e proteção da cultura, e não comemoração. Nesta data, o g1 mostra que por mais que as mulheres índigenas idealizem, tentem ou sonhem serem mães por métodos tradicionais, não conseguem por alguns obstáculos, que atualmente, são impostos. 📲 Participe do canal do g1 ES no WhatsApp para receber nossas notícias Assim como Bárbara, a indígena Rosanir Martine da Silva, há poucos meses, teve seu primeiro bebê no hospital público da cidade. Ara Poty, como é chamada na aldeia Piraque-Açu, também em Aracruz, disse que esperava ver o filho nascendo pelas mãos da avó, mas o sonho foi frustrado. A indígena Rosanir Martine da Silva teve seu primeiro bebê no hospital público no Espírito Santo Arquivo Pessoal "Minha avó fez muitos partos, já até perdeu as contas. Seria muito importante ela fazer o meu também, mas não está mais preparada para fazer. Está com mais de 85 anos, muito idosa para isso. Fui ao hospital e tive Flora lá. Correu tudo bem", contou Ara Poty. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), o estado possui 5.106 indígenas, sendo 2.529 mulheres e 2.577 homens, distribuídos em 14 aldeias dentro do território, todos em Aracruz. Nos últimos três anos, foram mais de 360 partos de indígenas. Neste ano, até 17 de abril, foram 17 partos. Keretxu é pajé da aldeia Piraque-Açu, parteira e avó de Ara Poty não faz mais partos por causa da idade Karol Felicio Documentário trata do assunto Esse dilema chamou a atenção da fotógra Karol Felicio, que a partir do tema fez o documentário "Travessia". Há quase dez anos, a fotógrafa registra o nascimento de crianças por meio de partos humanizados e, por ser de Aracruz, via o caminho inverso das indígenas quando davam à luz nos hospitais. "Pude acompanhar o movimento crescente da humanização do parto. Trabalho na bolha dos hospitais particulares e observo como as mulheres investem em equipes que praticam parto humanizado. As bases dessa nova forma de assistência são o respeito ao parto, ao protagonismo da mulher. Os saberes ancestrais como o parto de cócoras, parto na água, parto em casa, parto assistido por outras mulheres como doulas e parteiras urbanas (enfermeiras obstetras), se tornaram símbolo desse movimento - o que foi muito facilitado através do registro fotográfico, que começou a mostrar ao mundo como as mulheres dessa geração estão parindo e assim gerando desejo em outras mulheres de parir de uma forma mais acolhedora e respeitosa como antigamente", explicou. Documentário analisa manutenção da cultura do parto em aldeias de Aracruz Karol contou que paralelamente, frequentava as comunidades indígenas de Aracruz e começou a observar esse movimento das mulheres indígenas grávidas, de se deslocarem para parir nos hospitais da cidade. "Mesmo sabendo que existiam ainda algumas parteiras lá. Isso começou a me chamar atenção e despertar minha vontade de entender o porquê disso que para mim parecia uma contradição. As tradições estão mudando, alguns saberes se perdendo e ninguém para para olhar para essa realidade", discutiu Karol. O documentário foi realizado via Lei de Incentivo à Cultura Capixaba (LICC) e Governo do Estado do Espírito Santo, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult). Confira parte do curta no vídeo acima. LEIA TAMBÉM: Sêxtuplos do ES: Bebês completam um mês de vida; veja o que mudou na rotina dos pais Pais de sêxtuplos do ES pegam bebês pela primeira vez: 'Estou muito feliz', diz mãe Saiba quem era o pai dos quíntuplos capixabas Parto no hospital e na aldeia Bárbara Tupiniquim viveu duas experiências diferentes. Ela tem dois filhos, o primeiro, Tiê de 4 anos, nasceu de parto cesárea no hospital. Já a Iwa de 9 meses veio ao mundo como a mãe esperava, de maneira natural dentro da própria casa, na aldeia onde mora. ''A questão, para mim, era estar naquele ambiente que eu não me sentia confortável, era um ambiente que me causava uma frieza, enfim, eu tinha muito medo da cesárea. Entrei em trabalho de parto, respeitei o tempo da criança nascer. Eu tentei e fiquei dois dias com as dores, mas por questão psicológica, por não estar preparada, não consegui. Para poder 'atravessar'', aceitar essa realidade e viver aquele momento, passei por um tratamento psicológico e quatro anos depois eu engravidei da Iwa'', relembrou. Desta vez, Bárbara conseguiu realizar o desejo de dar à luzcomo seus ancestrais fazia, dentro do ambiente familiar, naturalmente. Mas para realizar o desejo, ela precisou contratar uma enfermeira obstétrica. Os indígenas costumam chamar de parteiras urbanas. Bárbara Tupiniquim, indígena, liderança da aldeia Pau-Brasil, em Aracruz, no Norte do Espírito Santo Karol Felicio "Já sabendo que não teria nenhuma parteira no território, fiz acompanhamento com uma parteira urbana, ou conteporânea, como costumamos chamar as enfermeiras obstétricas. Eu não queria ter um parto hospitalar. Eu queria ter um parto domiciliar no meu território, na minha casa. Minha filha chegou como eu sonhei, e o irmão também viu a chegada dela. Foi um momento especial para a família inteira", relembrou Bárbara. Tradições não são respeitadas Ela disse que as equipes nos hospitais recebem os indígenas bem, mas não preservam as culturas dos povos ancestrais. "A gente tem relatos de mulheres que foram respeitadas e a gente tem relatos de mulheres que sofreram violência obstétrica. As mulheres indígenas são vistas como parideiras, que parem rápido, que parem em qualquer lugar e que aguentam tudo, né? Assim como mulheres negras também, esse recorte é racial e a gente vê que isso como uma violência obstétrica. Muitas vezes chegam no hospital e não são atendidas da forma que deveria por esse estereótipo", desabafou. Como representante das mulheres indígenas do estado, Bárbara disse que o número de cesáreas aumentou no território indígena do Espírito Santo. "Percebi que o número de cesárias cresceu muito. Porque muitas vezes vão para o hospital antes do tempo, ficam lá internadas, esperando, não estão no trabalho de parto, mas ficam no hospital por algum motivo e ali ficam em observação até que chegar o momento em que são diagnosticadas por não ter passagem, porque o bebê não desceu, por isso e aquilo e são submetidas as cesáreas desnecessárias. Deveriam discutir mais políticas públicas para preservar e respeitar a mulher indígena", disse Bárbara. A indígena defende uma casa de parto no território indígena unindo conhecimentos ancestrais e acadêmicos. "Seria um sonho, mas até lá, desejo um preparo do hospital para toda a equipe, para que tenhamos segurança para ir aos hospitais sem medo", afirmou Bárbara. LEIA TAMBÉM: Morre pai dos quíntuplos capixabas que participaram de reality Marido de professora que faz conteúdo adulto na internet se diz 'sortudo por ter uma mulher desejada por milhares' Conselho de Medicina defende adequação no atendimento O Conselho Regional de Medicina ( CRM-ES) foi procurado pela reportagem e disse que defende e respeita as tradições de todos os povos e a adequação, na medida do possível, do atendimento ao paciente a partir disso. No entanto, esse atendimento à cultura indígena depende de unidades mais próximas às aldeias e de uma política pública que garanta condições de trabalho, com equipamentos e materiais adequados, treinamento e um plano de carreira que incentive o profissional a atuar nessas áreas. Disse ainda que nas unidades de atendimento ao público geral, os obstetras devem seguir todos os cuidados para que o parto ocorra de forma humanizada e mais natural possível. A cesariana é um recurso que o médico está preparado para usar quando precisa preservar a saúde da mãe e/ou do bebê. Ao g1, o conselho disse que se coloca à disposição das autoridades e dos gestores públicos para discutir políticas que proporcionem o melhor e mais condizente atendimento aos povos indígenas. Partos nas aldeias A Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) informou que o Espírito Santo tem 5.106 indígenas, sendo 2.529 mulheres e 2.577 homens, distribuídos em 14 aldeias dentro do território, todos em Arcruz. Disse ainda Em 2021, foram realizados 107 partos. Em 2022, 131. Em 2023, 129. E em 2024, até o dia 17 de abril, foram feitos 17 partos. Parto g1 A Sesa disse ainda que quando as parturientes são encaminhadas aos hospitais, a ancestralidade é muito presente e os hábitos culturais são preservados dentro da unidade. Por exemplo, além da alimentação com carne branca, as mães são posicionadas de cócoras e, muitas vezes, são acompanhadas pela parteira, que na grande maioria são parentes próximas. Não apenas mulheres indígenas, a Política Nacional de Atenção à Saúde da Mulher contém diretrizes que asseguram os direitos das gestantes. Em nota, a secretaria informou que mesmo em métodos naturais, os dados apontam um maior número de partos dentro dos hospitais em relação aos feitos em aldeias. Também é notório que as parteiras estão envelhecendo e a prática no território está diminuindo. Observamos um maior número de parteiras na etnia Guarani, se comparada a etnia Tupiniquim. Com exceção dos partos em situação de risco, que devem ser feitos em uma unidade hospitalar, a orientação é que as gestantes escolham onde querem dar à luz e tenham sua vontade respeitada. As equipes são capacitadas para o fortalecimento do parto tradicional. Através do recurso de Incentivo para Atenção Especializada ao Povos Indígenas (IAEPI), o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) de Minas Gerais e Espírito Santo (DSEI/MGES) vem implementando nas maternidades o parto natural com parteiras e médicos, na posição que a gestante acredita ser a melhor. Além desta ação, o Dsei tem projetos para resgatar essa prática no território. VÍDEOS: tudo sobre o Espírito Santo Veja o plantão de últimas notícias do g1 Espírito Santo

FONTE: https://g1.globo.com/es/espirito-santo/norte-noroeste-es/noticia/2024/04/19/dificuldade-em-manter-tradicao-com-parteiras-em-aldeias-do-es-faz-indigenas-recorrerem-a-hospitais.ghtml


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